domingo, 4 de março de 2007

O pouco que sei sobre warrants... "a pedido de várias famílias"!

Tenho sido contactado nos últimos tempos por alguns leitores, que me pedem para explicar "como é isso dos warrants". Agradeço a consideração mas provavelmente não serei a melhor pessoa para o fazer. Há muita leitura disponivel na net sobre isso, e bastante mais exaustiva do que aquilo que eu possa explicar. No entanto vou me arriscar a expor o pouco que sei sobre o assunto. Claro que se houver aqui alguma "calinada" agradecia encarecidamente que me corrigissem (via comentários). Ora cá vai...

A título de exemplo tomemos o warrant mais recente em carteira: o 7040z, ou mais explicitamente BCP P 2,8 6-07 CBZ. O que é que traduz esta descrição? Tem haver com duas componentes: o preço de exercício - 2.80€ - e a data de vencimento - 6-07.

Preço de exercício - Aquele warrant dá-me o direito (virtual - estilo "faz de conta") de em Junho de 2007 (15-06-07 mais precisamente) vender BCP a 2.80€ (1 acção por cada warrant). Imaginemos que nessa data o BCP está a cotar a 2.50€. Eu virtualmente poderia ir ao mercado "comprar" BCP a esse preço e "vender" logo a seguir a 2.80€ porque tinha esse "direito". Ou seja, na prática o warrant valeria 0.30€. Quando estamos muito perto da data de vencimento (aprox. 1 mês) a cotação do warrant é praticamente definida por este mecanismo. Ou seja ao preço actual (2.71€) deveria valer 0.11€. Então porque é que está a valer 0.25-0.26 (p/ vender - p/ comprar)? Aí entra o factor tempo, i. e., ...

Data de vencimento - Aqui não sei expicar exactamente a formula que é usada. Mas tem haver com o seguinte: imagine que na data de vencimento o BCP (em Junho) estava a cotar a 2.90€ ; nesse caso o warrant valia zero, e lá se ia o dinheiro. Mas se hoje ele estivesse a 2.90€ , ainda faltam mais de três meses; ainda há a probabilidade de ir abaixo dos 2.80€. Aí o warrant não valia zero mas podia valer alguma coisa. Vamos supor 0.04€, que seria o valor dado pelo emissor do warrant (neste caso o Commerzbank) à probabilidade de ainda poder ir pelo menos aos 2.80€ até Junho. Pronto: deste factor (a distancia temporal até à data de vencimento) resulta o restante valor associado ao warrant - que joga contra nós à medida que a data se aproxima.

Pronto. Pode parecer um bocado confuso, mas se seguirmos a cotação de um warrant ao longo do tempo, o que parece complicado até começa a ter muita lógica.

Só mais duas notas: o exemplo que dei refere-se a um put warrant; um call warrant dá-nos o direito de comprar a um dado valor na data de vencimento. Por isso, nesse caso é conveniente que a cotação suba para cima do tal valor (preço de exercício).
Segunda nota: Não temos que esperar pela data de vencimento. O banco emissor pode-nos recomprar a qualquer momento ao preço calculado nesse instante da maneira acima referida.

Como é obvio devemos aplicar em warrants somas relativamente pequenas. Há o risco de o warrant vir a valer zero! Por exemplo: no caso do primeiro warrant da carteira (GALP C 6 3-07 CBZ) quando o comprei valia 0.63€, e como estava perto da data de vencimento, a Galp valia aprox. 6+0.63=6.63€. Eu, mentalmente "fiz de conta" que estava a comprar Galp a 6.63€, só que estava a arriscar apenas a quantia relativa a 0.63€, guardando em carteira o correspondente aos restantes 6€; era como se tivesse um "stop-loss" nos 6€. Visto por este prisma até acaba por ser uma abordagem mais segura.
O problema surge quando, por ganância, pomos grande parte do bolo em warrants (esquecendo aquela abordagem) atraidos pelas fortes valorizações potenciais associadas à pequena parcela do valor da acção (ou do subjacente), e esquecendo tambem fortes perdas potênciais.

Espero não ter sido muito confuso. E também não estar a induzir ninguém a embarcar em loucuras. Os warrants são como um remédio potente: em pequenas doses pode ser até benéfico, mas um pouco acima disso PODE "MATAR"!! Por isso muito cuidado.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pela minha parte, já que faço parte das "várias familias" estou-te agradecido Quico.
Já agora, também lidas com CFDs? Qual achas mais simples?
Um grande obrigado
José Nunes

loc disse...

Pelo que sei, os CFD's serão semelhantes, mas mais simples: não têm a questão temporal à mistura. Também têm spread (diferença entre o preço de compra e venda, destinada a dar lucro ao emissor), pormenor que não abordei na explicação.

Mas não estão disponiveis no meu banco e por isso não uso... para já.

Um abraço.

Anónimo disse...

Obrigado pela resposta Quico.
Não querendo tornar-me maçador, já percebim que tu trabalhas muito com os gráficos feitos em períodos de tempo semanal. Quais são as vantagens?
Obrigado, uma vez mais
Abraço
José Nunes (1963 - CB)

loc disse...

Geralmente os graficos semanais filtram o "ruido" dos movimentos diários, e realçam o movimento "de fundo" de um título. Tenho obtido melhores resultados com esses gráficos.
O blog da terra da broa também faz análise beseada em semanais (foram, aliás, as análises do Tito que me despertaram para esse tipo de gráficos).
Curiosamente, por causa dos warrants, tenho andado a olhar para gráficos diários e a coisa está a correr mal.

Um abraço.

Anónimo disse...

Uma vez mais, obrigado Quico.