Tenho sido contactado nos últimos tempos por alguns leitores, que me pedem para explicar "como é isso dos warrants". Agradeço a consideração mas provavelmente não serei a melhor pessoa para o fazer. Há muita leitura disponivel na net sobre isso, e bastante mais exaustiva do que aquilo que eu possa explicar. No entanto vou me arriscar a expor o pouco que sei sobre o assunto. Claro que se houver aqui alguma "calinada" agradecia encarecidamente que me corrigissem (via comentários). Ora cá vai...
A título de exemplo tomemos o warrant mais recente em carteira: o 7040z, ou mais explicitamente BCP P 2,8 6-07 CBZ. O que é que traduz esta descrição? Tem haver com duas componentes: o preço de exercício - 2.80€ - e a data de vencimento - 6-07.
Preço de exercício - Aquele warrant dá-me o direito (virtual - estilo "faz de conta") de em Junho de 2007 (15-06-07 mais precisamente) vender BCP a 2.80€ (1 acção por cada warrant). Imaginemos que nessa data o BCP está a cotar a 2.50€. Eu virtualmente poderia ir ao mercado "comprar" BCP a esse preço e "vender" logo a seguir a 2.80€ porque tinha esse "direito". Ou seja, na prática o warrant valeria 0.30€. Quando estamos muito perto da data de vencimento (aprox. 1 mês) a cotação do warrant é praticamente definida por este mecanismo. Ou seja ao preço actual (2.71€) deveria valer 0.11€. Então porque é que está a valer 0.25-0.26 (p/ vender - p/ comprar)? Aí entra o factor tempo, i. e., ...
Data de vencimento - Aqui não sei expicar exactamente a formula que é usada. Mas tem haver com o seguinte: imagine que na data de vencimento o BCP (em Junho) estava a cotar a 2.90€ ; nesse caso o warrant valia zero, e lá se ia o dinheiro. Mas se hoje ele estivesse a 2.90€ , ainda faltam mais de três meses; ainda há a probabilidade de ir abaixo dos 2.80€. Aí o warrant não valia zero mas podia valer alguma coisa. Vamos supor 0.04€, que seria o valor dado pelo emissor do warrant (neste caso o Commerzbank) à probabilidade de ainda poder ir pelo menos aos 2.80€ até Junho. Pronto: deste factor (a distancia temporal até à data de vencimento) resulta o restante valor associado ao warrant - que joga contra nós à medida que a data se aproxima.
Pronto. Pode parecer um bocado confuso, mas se seguirmos a cotação de um warrant ao longo do tempo, o que parece complicado até começa a ter muita lógica.
Só mais duas notas: o exemplo que dei refere-se a um put warrant; um call warrant dá-nos o direito de comprar a um dado valor na data de vencimento. Por isso, nesse caso é conveniente que a cotação suba para cima do tal valor (preço de exercício).
Segunda nota: Não temos que esperar pela data de vencimento. O banco emissor pode-nos recomprar a qualquer momento ao preço calculado nesse instante da maneira acima referida.
Como é obvio devemos aplicar em warrants somas relativamente pequenas. Há o risco de o warrant vir a valer zero! Por exemplo: no caso do primeiro warrant da carteira (GALP C 6 3-07 CBZ) quando o comprei valia 0.63€, e como estava perto da data de vencimento, a Galp valia aprox. 6+0.63=6.63€. Eu, mentalmente "fiz de conta" que estava a comprar Galp a 6.63€, só que estava a arriscar apenas a quantia relativa a 0.63€, guardando em carteira o correspondente aos restantes 6€; era como se tivesse um "stop-loss" nos 6€. Visto por este prisma até acaba por ser uma abordagem mais segura.
O problema surge quando, por ganância, pomos grande parte do bolo em warrants (esquecendo aquela abordagem) atraidos pelas fortes valorizações potenciais associadas à pequena parcela do valor da acção (ou do subjacente), e esquecendo tambem fortes perdas potênciais.
Espero não ter sido muito confuso. E também não estar a induzir ninguém a embarcar em loucuras. Os warrants são como um remédio potente: em pequenas doses pode ser até benéfico, mas um pouco acima disso PODE "MATAR"!! Por isso muito cuidado.